No campo das idéias a contradição é uma figura tenebrosa, uma enfermidade. Contradizer-se é, não raro, motivo suficiente para a ridicularização do pronunciante e funciona apenas para o seu descrédito. Antes de desejarmos não nos contradizermos com medo das opiniões alheias, o fazemos pelo bem da sustentação de nossas idéias. Exigimos de nós mesmos um encadeamento lógico das mesmas, pelo bem de nossa própria saúde mental.
Visando a não contradição nossos pensamentos acomodam-se em nossas cabeças, por vezes a grande custo, de modo que haja espaço para todos e que fiquem perfeitamente alojados. Mesmo as mais excêntricas das idéias não podem conflitar-se pelo bem de seu defensor, posto que é difícil respeitar às idéias de alguém que não respeita à própria consciência. É comum que a maturidade nos sirva para a coesão das idéias, a proximidade que elas passam a apresentar, tornam-nas polidas e espelho umas para as outras. Os pensamentos passam a ser tão complementares uns aos outros que ao se expor um, outros parecem visíveis pela dedução, ou mesmo pela intuição, e se seguem fluentemente. Há uma idéia, porém, que consegue revelar as outras com maior grandeza, parece refletir a própria essência de nossa formação intelectual, esta idéia é a que fazemos de Deus. Um velho halterofilista barbado ou o sol que traz a colheita. A Verdade ou uma mentira. Não é o caso de que todas as idéias se desprendam dessa, mas o fato é que a partir dela a exposição de ideologias parece bem mais clara.