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Singularidade e estranheza

Em meados do século XI ia São Hugo, bispo de Grenoble, fazendo a necessária visita apostólica de sua diocese a pé, por devoção e penitência. Foi preciso que o santo bispo fosse aconselhado por outro santo para que passasse a fazer a tal visita a cavalo. São Bruno, fundador da ordem Cartuxa, comumente lembrado pela austeridade e rigor, foi quem se pôs a aconselhar assim a São Hugo. Sem contar a grande fadiga desnecessária que uma tal viagem o faria, São Bruno assim falou para que se fizesse, pois todos os demais bispos, por praticidade e costume, faziam seus respectivos percursos a cavalo, e ele deveria evitar a singularidade.

É certo e querido por Deus que o católico demonstre por seu vestir e agir a sua Fé, mas seguindo o conselho de São Bruno, a singularidade deve ser evitada. Como é bom ver que muitos ainda não correm a esconder seus crucifixos, seus escapulários, camisetas com temas católicos, ou mesmo as cadeias da consagração a Santíssima Virgem; são silenciosos testemunhos de nossa filiação a Deus. Mas se por um lado não devemos cair no erro do respeito humano, escondendo os símbolos e atitudes próprias de nossa Fé, por outro se deve evitar o exagero que causa a singularidade e estranheza.

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O caniço e o Sarney

“Que foste ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” Pergunta Nosso Senhor aos seus discípulos acerca de São João Baptista. As Sagradas Escrituras ainda nos relatam, através dos santos evangelistas, que não nasceu de ventre de mulher homem maior do que o último profeta da Antiga Aliança. Por que Nosso Senhor se refere assim ao maior de todos os homens? São João Baptista não era um caniço agitado pelo vento das ocasiões. Sua fé firme não se deixava abater pelas novidades e pelas circunstâncias. O homem-caniço, por seu turno, é aquele que se adequa ao momento. É o sujeito casuista que não titubeia em mudar de posição, se essa mudança o favorece. Conclui-se, portanto, que o maior homem de todos os tempos certamente não seria um político, e mais certo ainda, não seria político brasileiro. Aqui só temos políticos-caniço – a notícia é de domínio público e quase cultural. São agitados pelos ventos das ocasiões e “governabilidades” com a finalidade de se garantir o aprimoramento das instituições e blá, blá, blá.

Na lógica politiqueira, que não combina com a fidelidade, para possibilitar as mudanças e as “reformas necessárias” é premente, também, espezinhar a ética e surrupiar a consciência. Devido a essas incertezas e maleabilidades dogmatáticas dos parlamentares, já virou uma espécia de crítica necessária bradar contra a classe política e seus desmandos. Denunciar seu encastelamento burocrático onde se engendram a si mesmo num maquinário onde a corrupção é a graxa necessária da sujeira que faz a indústria política moer. E moem nestas tristes moendas para revelar ante os nossos olhos atônitos a crise moral sem precedentes que há na história desse país. Moem os desvalidos da riqueza e da pobreza. Alimentam a miséria moral dos ricos e justificam a miséria miserável dos pobres que até mesmo da moral e bons costumes são privados.

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O padre largou a batina

O falso princípio igualitário da Revolução Francesa penetrou sutilmente na Igreja a partir do Concílio Vaticano II provocando uma confusão de identidade que acabou gerando uma crise de pastoralidade na Igreja. Os bispos não respeitam o Papa; os padres não respeitam os bispos; os fiéis não ouvem mais o padre. Se todos somos iguais, quem é esse Papa que veio dizer o que devo fazer e o que não devo? Devemos antes dialogar para chegarmos a um consenso, pois todos indistintamente são possuidores de uma dignidade que os habilitam na construção da verdade universal. Essa é a tônica atual da crença que se estabeleceu na sociedade cristã e que em última análise está desembocando na apostasia em massa dos católicos.

Um símbolo que é a materialização da aversão à igualdade, sem sombra de dúvida, é a vestimenta negra dos que vergaram a morte para o mundo. A batina simboliza a túnica de Cristo e é uma nota de dignidade e distinção para aqueles que escolheram uma vida mais perfeita e penitente. A batina lembra ao padre sua condição de sacerdote e exterioriza seus atos à vida religiosa. Por sua vez, na condição de sacerdote, não usar a batina é indício de desobediência e espírito igualitário, nos moldes revolucionários. Quando não, ignorância do que se teria o dever de saber.

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OS MISTÉRIOS DO ROSÁRIO (I)

PREFÁCIO

Por Dom Raymond Thibaut, O.S.B.
Abadia de Maredsous, Bélgica

Se Cristo Jesus é o Filho de Deus por Seu eterno e inefável nascimento no seio do Pai, Ele é também Filho do Homem por seu nascimento temporal no ventre de uma mulher.

Essa mulher é Maria; mas ela é também uma Virgem. É dela, e só dela, que Cristo assumiu Sua natureza humana. É a ela que Ele deve Sua natureza de Filho do Homem. Ela é realmente a Mãe de Deus. Por essa razão Maria ocupa, no Cristianismo, uma posição única, excelsa e essencial. Assim como a realidade de Cristo como “Filho do Homem” não pode ser separada daquela de “Filho de Deus”, também Maria está unida a Jesus; na verdade, a Virgem Maria participa do mistério da Encarnação por reivindicação da própria essência do mistério.

Por isso a Virgem Maria é associada por laços tão íntimos com a economia fundamental do mistério Cristão, e, conseqüentemente, com nossa vida sobrenatural, aquela Vida Divina que nos vem por meio de Cristo, o Deus-homem, e que nos vem por Cristo enquanto Deus, mas pelo instrumento de Sua natureza Humana. Como Jesus, cada um de nós também deveria ser um “Filho de Deus” e “Filho de Maria”. Ele é ambas as coisas em perfeição. Se quisermos praticar a Sua imitação em nós, devemos da mesma forma, então, possuir tais características.

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A receita da felicidade

Um rosto na Paixão da Igreja

Depois de um longo período, tendo retomado as atividades presenciais do Apostolado Nossa Senhora do Bom Conselho, esperamos devolver também este blog à vida, com a graça de Deus. Iniciamos então esta nova série de postagens com artigo publicado na edição de número 20 da revista do Círculo Católico de Pernambuco.


Um rosto na Paixão da Igreja

O coração da Igreja é a Eucaristia, quae sub his figúris vere látitas, sob cujas aparências oculta-se a Divindade, e que para todos os seus membros pulsa esse sangue de mistério. Assim, a santidade da Igreja é velada. Tal qual a Cruz, Ela é para uns escândalo, para outros loucura. Não bastasse a dificuldade natural de enxergar à divindade da Igreja, em si apenas superada com a graça divina pela virtude da Fé, há ainda aquela multidão dos que trabalham para sepultá-la sob a sujeira e a imundície, sob a escuridão e a idolatria. E triste é constatar que uma boa parte desses agentes da perdição, em particular aqueles cujos atos são os mais destrutivos e perversos e que mais clamam pela ira divina, são justamente aqueles que deveriam servir à causa da Cruz, que têm morada no seio da Igreja de Cristo.

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CAPÍTULO I

O MUNDO DOS ESPÍRITOS

III – As faculdades dos anjos

Chamamos de potências ou faculdades da alma à inteligência e a vontade. São, como se costuma dizer, as duas asas que levam à alma para o alto. O espírito angélico, da mesma forma, possui as duas asas, como de outra forma não poderia ser, pois são o complemento necessário de todo ser espiritual. Nele, elas são mais potentes e velozes, visto que um anjo é um espírito puro. Entre a inteligência e a vontade humana, e a inteligência e a vontade angélica, existe a mesma diferença que entre as asas de um inseto, e as asas de uma majestosa águia.

Nosso conhecimento dos anjos não seria possível senão pela via de comparação com nós mesmos; ao estudarmos a inteligência humana reconheceremos suas imperfeições, e compreenderemos que nos são próprias, poderemos então afastar o pensamento de fazer em nós a inteligência angélica, e só assim conseguiremos com sucesso pensar com certa clarividência, segurança e profundidade.

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Do dever de vestir-se com modéstia

Na lateral direita do blog está disponível um novo arquivo para download. Trata-se do livreto “Do dever de vestir-se com modéstia”, no qual apresentamos, numa série de perguntas e respostas, um resumo dos argumentos a favor da prática de tão esquecida virtude.

Assim como o folheto do “Método de assistir à Santa Missa pela meditação da Paixão”, o arquivo está organizado de forma que as páginas pares sejam impressas no verso das páginas impares.

Desde o dia 9 de novembro é possível fazer, através do site do Vaticano, uma excelente visita virtual à Basilica de São João de Latrão – Catedral do Papa e a mais antiga das quatro basílicas maiores. O trabalho foi feito pela Villanova University da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e colocado no site como parte das celebrações da festa da Dedicação da Basílica. Com zooms e giros de 360 graus para os lados, para cima e para baixo, é possível explorar muitos detalhes da igreja com grande nitidez. Divirtam-se.

CAPÍTULO I

O MUNDO DOS ESPÍRITOS

 

II – A natureza angélica

Peçamos aos anjos, essas criaturas mais inefáveis que o vento, mais fulgurantes que o relâmpago, que se ponham um instante diante de nós, para que possamos apreender algo de sua aparência deslumbrante.

Existem três tipos de espírito: o espírito humano, o espírito angélico e o espírito divino criador de todas as coisas. Esses espíritos se movem em três esferas que podemos chamar concêntricas. A primeira esfera, cujo raio é o mais curto, é a da inteligência humana. A segunda, que envolve a primeira, incomparavelmente maior e mais elevada, é a aquela habita e preenchida pela natureza angélica. Por fim, a terceira, contendo as outras duas e de dimensão infinita, é a esfera de luminosidade inacessível, lugar próprio de Deus Criador, da Santíssima Trindade.

O conhecimento do homem, por si mesmo, confinado na esfera em que habita. Tem por seu terreno próprio às coisas humanas. Não que não possa elevar-se além da razão; mas não possui a visão clara e nítida do mundo dos espíritos. Quando procura formular uma idéia, imagens de coisas sensíveis vêm interpor-se entre os olhos da alma e os objetos puramente espirituais; e os distinguem muito confusamente, como se visse um objeto distante através de uma barreira pouco translúcida. Em poucas palavras, para conhecer a Deus perfeitamente, seria preciso ser o próprio Deus; para conhecer aos anjos perfeitamente, seria preciso ser um anjo. O homem que desejar penetrar nos segredos da natureza angélica, ficará sempre aquém da verdade. Ele será como um astrônomo que explora os espaços de luz onde se movem os astros. Poderia orgulhar-se de ter um conhecimento absolutamente exato? De forma alguma. São tais contemplações estéreis, tais observações inúteis? Seria errado de assim o pensar.

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